Na obra de Aluísio Azevedo, João Romão é o dono do cortiço que explora Bertoleza, uma escrava liberta que trabalha como sua “companheira” em troca de migalhas. Sua ambição não é ficção:
No século XIX: Ele lucra com a miséria dos moradores, controla Bertoleza e a humilha publicamente.
Em 2024: Ele é o empresário que assedia funcionárias, promovendo-as apenas em troca de favores sexuais. É o marido que rastreia o celular da esposa, usando apps como Life360 para controlar cada movimento. É o ex que usa deepfakes para chantagear nas redes sociais.
A ganância de João Romão é a mesma: poder, controle e a exploração do corpo e do trabalho feminino.
No livro, Leocádia é espancada pelo marido Bruno, que a trai e a culpa pela própria infidelidade. Hoje, a violência se repete:
Dados atuais (IPEA, 2024):
1 em cada 4 mulheres sofre violência física no Brasil.
86% dos feminicídios são cometidos por parceiros ou ex.
Exemplo real: Em 2023, uma mulher em São Paulo foi morta a facadas pelo ex-marido após 12 registros de ameaças ignorados pela polícia.
Quantas Estelas você conhece?
No romance, Dona Estela é mantida em um casamento vazio por Miranda, que a despreza, mas usa seu dote para ascender socialmente. Hoje, são mulheres que sobrevivem a relacionamentos tóxicos porque não têm acesso a moradia, emprego ou rede de apoio.
Rita Baiana, personagem que desafia normas ao viver sua sexualidade livremente, é assassinada por Firmo, consumido pelo ciúme. A objetificação moderna:
Hoje, mulheres como Rita são:
Cyberstalkeadas: Perseguidas por ex-parceiros que invadem suas redes.
Vítimas de revenge porn: Têm fotos íntimas vazadas como “vingança”.
Julgadas por roupa curta: Em 2023, uma jovem no Rio foi esfaqueada por um desconhecido que disse: “Ela estava pedindo”.
A guerra pelo corpo feminino continua.
Bertoleza é explorada por João Romão, que a mantém presa em uma relação de servidão disfarçada de afeto. As Bertolezas de 2024:
Empregadas domésticas sem carteira assinada, dependentes de patroas abusivas.
Mulheres que financiam o agressor: Pagam contas do parceiro com medo de serem abandonadas.
Vítimas de tráfico humano: Exploradas sexualmente em rotas turísticas, como as denúncias em Copacabana.
A escravidão moderna não usa correntes: usa dependência econômica.
Violência no Século XIX | Violência em 2024 |
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Leocádia espancada por Bruno | 1 mulher agredida a cada 4 minutos |
Rita Baiana morta por ciúme | 1.6 milhão de ligações ao Disque 180 em 2023 |
Bertoleza explorada por João Romão | 45% das mulheres não denunciam agressão por dependência financeira |
Para mulheres:
Denuncie: Ligue 180 ou use o app PenhaS.
Procure redes de apoio: Coletivos como Frente de Mulheres Negras oferecem abrigo e assistência.
Para homens:
Reeduque-se: Cursos como “Homens pelo Fim da Violência” (Instituto Patrícia Galvão) ajudam a desconstruir o machismo.
Denuncie outros homens: O silêncio é cumplicidade.
Para a sociedade:
Exija políticas públicas: Cobrar leis como a Lei Mariana Ferrer (que tipifica a violência digital) é urgente.
Enquanto você lê este texto, uma mulher está sendo ameaçada em um cortiço moderno:
Na favela: Onde o tráfico controla corpos femininos.
No condomínio de luxo: Onde maridos poderosos abusam sem consequências.
No metaverso: Onde avatares femininos são assediados em ambientes virtuais.
O que você fará?
#FeminicídioNãoÉFicção
#OCortiçoÉHoje